quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Efemérides da História Lusófona: #8 A proclamação da República (5 de outubro de 1910)

– Viva a República! A Monarquia chega ao fim –
     O assassínio do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe, em 1908, marcou o princípio do fim da Monarquia em Portugal. O novo rei, D. Manuel II, teve de assumir o trono com apenas 18 anos, não estando preparado para as funções de monarca. D. Manuel tentou acalmar o ambiente tenso e agitado que se vivia. Demitiu João Franco, até então chefe do governo, considerado responsável pela insatisfação que levara ao regicídio e nomeou um governo constituído pelos vários partidos apoiantes da Monarquia. Mas o ambiente político estava cada vez mais instável e os partidos monárquicos envolviam-se em lutas que pareciam não ter fim. Entretanto, o Partido Republicano ganhava apoio e venceu mesmo as eleições para o Município de Lisboa, em novembro de 1908. Os escândalos sobre a atividade dos governos sucediam-se, muitas vezes exagerados pela imprensa simpatizante dos republicanos. Em 1909, o rei procurou obter apoios para o regime monárquico, em especial junto do rei de Inglaterra, Eduardo VII, mas sem sucesso.


D. Manuel II, ultimo rei de Portugal

     Por fim, o inevitável aconteceu. No dia 4 de outubro de 1910, às primeiras horas da manhã, começou a revolução. Tropas republicanas ocuparam a Rotunda, em Lisboa, e uma posição próxima do Palácio das Necessidades, no bairro de Alcântara, residência do rei D. Manuel II. Os revoltosos conseguiram também que três navios de guerra ancorados no Tejo aderissem à causa republicana, chegando mesmo a bombardear o palácio real. Depois de um dia de muita ansiedade, no dia 5 os republicanos conseguiram triunfar. A República foi proclamada por José Relvas, um dos principais líderes republicanos, na varando do edifício da Câmara de Lisboa.
A proclamação da República da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, a 5 de outubro de 1910


A primeira página do jornal O Século, de 6 de outubro de 1910

    D. Manuel II tinha partido para Mafra para libertar a sua guarda pessoal para o combate aos revoltosos. Após saber do triunfo da revolução, dirigiu-se à Ericeira, onde embarcou no iate real Amélia. Acompanhando da mãe e da avó, partiu para o exílio para Inglaterra. Tinha acabado a Monarquia em Portugal.
Alegoria da proclamação da República Portuguesa.
Litografia de Cândido da Silva.

– Machado Santos –
     António Maria de Azevedo Machado Santos nasceu em Lisboa, em 1875, filho de um pequeno comerciante. Em 1891 (o ano da revolta republicana no Porto), alistou-se na Marinha, seguindo a carreira na Administração Naval, chegando a segundo tenente. Politicamente, foi militante de movimentos de esquerda monárquica, aproximando-se depois dos republicanos. Opôs-se ao governo ditatorial de João Franco e tornou-se membro da Carbonária, uma organização secreta que pretendia derrubar o regime monárquico, se necessário pela força das armas. Machado Santos foi um conspirador eficiente que conseguiu mobilizar para a causa republicana vários jovens recrutas. Quando se preparou a revolta de outubro de 1910, era uma das figuras principais. Na madrugada de 4 de outubro, apesar de alguma descoordenação entre os dirigentes republicanos, Machado Santos, após tomar os quartéis de Infantaria 16 e Artilharia 1, dirigiu-se para a Rotundo, no topo da avenida da Liberdade. Durante todo o dia resistiu aos ataques das tropas leais à Monarquia, sendo um dos poucos líderes revoltosos que não abandonou a sua posição. A sua determinação foi fundamental para o triunfo dos republicanos. Na manhã do dia 5 de outubro, foi proclamada a República Portuguesa. Apesar de ser um dos principais responsáveis pelo triunfo republicano, Machado Santos opôs-se depois à maioria dos governos republicanos por não concordar com muitos dos políticos que os integravam. Foi assassinado por rebeldes monárquicos em outubro de 1921.
António Machado Santos, herói da revolução de 5 de outubro.

– A Rotunda –
     Este local estratégico na cidade de Lisboa foi da maior importância para o triunfo da revolução republicana. Situada no topo da avenida da Liberdade, a Rotunda controlava o acesso à parte alta da cidade. O plano republicano era reunir às tropas que tomaram a Rotunda os marinheiros dos navios de guerra que aderiram à revolta. O objetivo era isolar as tropas monárquicas do Quartel do Carmo.
Membros da Carbonária nas barricadas da Rotunda.

     As primeiras horas da revolta trouxeram notícias pouco animadoras e muitos oficiais republicanos, receando que a operação falhasse, decidiram abandonar a Rotunda. Mas as tropas lideradas por Machado Santos e auxiliadas por muitos civis membros da Carbonária mantiveram-se no local. A resistência a posição da Rotunda foi assim essencial para o triunfo da revolução.

– Os Novos símbolos –
     O novo regime republicano escolheu novos símbolos nacionais para marcar a diferença em relação à monarquia. A bandeira azul e branca foi substituída. Um concurso é lançado e várias propostas de bandeira são apresentadas.
As propostas de bandeira nacional apresentadas em 1910.

     Em 1911, o novo estandarte nacional recebe aprovação constitucional: vermelho, para lembrar a conquista, a vitória e o sangue; verde, cor da esperança, simbolizando a importante mudança então vivida no país; a esfera armilar, apanágio dos Descobrimentos; as cinco quinas, homenageando os defensores da independência portuguesa durante a História; os sete castelos, representativos da fundação da nação portuguesa.
O projeto adotado. A atual bandeira nacional.

     Além da bandeira, o governo republicano adotou também uma nova moeda, o escudo, e um novo hino – A Portuguesa, a marcha composta em 1890 em resposta ao Ultimato Inglês.
Moeda de 1 escudo (1916)


Para saber mais:
http://www.ensina.rtp.pt/artigo/d-manuel-ii-1889-1932/
http://www.ensina.rtp.pt/artigo/5-de-outubro-1910/
http://www.centenariorepublica.pt/

Fonte: Ruben Castro e Ricardo Ferrand, Grandes datas de Portugal (1096-2007), Texto Editores, Lisboa, 2011.