sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Efemérides da História Lusófona: #9 Lisboa conquistada aos Mouros (25 de outubro de 1147)

– Portugal cresce para sul –
     Reconhecido o reino de Portugal (com o Tratado de Zamora em 1143), era necessário continuar a aumentar o território reconquistando mais terras aos Mouros. A capital de Portugal ficava então em Coimbra (a primeira capital do reino independente), junto do rio Mondego que marcava a fronteira do reino. A partir daqui seriam lançadas novas campanhas contra os Mouros. A expansão do território fez-se para sul, procurando sempre tomar as cidades mais importantes, que funcionariam depois como bases de apoio a novas conquistas. Após a reconquista de Leiria, em 1145, tornou-se mais fácil planear a tomada das cidades situadas junto do rio Tejo, a porta de entrada para o sul. D. Afonso Henriques começou por conquistar Santarém, em março de 1147. O passo seguinte seria a cidade de Lisboa. Era uma das maiores cidades no ocidente da Península Ibérica, dominando uma região muito grande e rica em produção agrícola. Além disso, estava muito bem defendida pela sua localização geográfica e era também um porto muito importante.
O cerco de Lisboa, aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1917)

    Em julho de 1147, D. Afonso Henriques pôs cerco a Lisboa. Os Mouros resistiram durante muito tempo, pois não queriam perder esta grande cidade. Porém, em outubro, contando com a ajuda de guerreiros cristãos (cruzados) vindos do norte da Europa, o monarca português conseguiu finalmente derrotar os Mouros e tomar Lisboa. A 25 de outubro de 1147, D. Afonso Henriques penetra nas muralhas da cidade. A tomada da cidade fora narrado numa carta, De expugnatione Lyxbonensi, da autoria do monge beneditino Osberto de Bawdsey que muito provavelmente acompanhara cavaleiros ingleses rumo às Cruzadas. Lisboa é saqueada pelos Cruzados e as populações muçulmanas retiram-se para sul. Foram também conquistadas Sintra, Almada e Palmela, outras localidades que ajudavam à defesa da cidade. A conquista de Lisboa foi muito importante, pois permitiu a D. Afonso Henriques atravessar o Tejo e iniciar conquistas no Alentejo onde ficavam algumas das cidades muçulmanas mais importantes e também mais ricas como Évora e Beja. Portugal crescia, assim, em direção ao sul (daí a forma alongada do território português). 

– Entalado na porta –
     O cerco a Lisboa durou mais de três meses e os Mouros ofereceram grande resistência aos ataques dos Cristãos. Reza a lenda que a cidade só foi conquistada porque um dos soldados portugueses, de seu nome Martim Moniz, se deixou entalar na porta do castelo para que os seus camaradas de armas conseguissem entrar na fortaleza moura e derrotar os defensores da cidade.
O entalado, escultura de José João Brito na estação Martim Moniz do metropoliano de Lisboa

– Cruzadas e Cruzados –
     No final do século XII, o papa Urbano II pregou à Cristandade a necessidade de se recuperar, das mãos dos Muçulmanos, a Terra Santa (a Palestina), onde se localiza Jerusalém, a cidade onde Jesus Cristo tinha sido morto há mais de mil anos. Muitos nobres europeus, e até mesmo alguns reis (como acontecera com Ricardo I de Inglaterra, o famoso “Coração de Leão”, ou ainda Luís IX de França, o célebre São Luís) responderam ao apelo do Papa e partira para a conquista da Terra Santa. Os guerreiros que participaram nestas expedições militares, a que se deu o nome de Cruzadas, eram conhecidos como cruce signati, os Cruzados – usavam longas túnicas brancas com uma cruz vermelha pintada. Estas expedições militares tiveram, de início, um grande sucesso – os Cristãos conseguiram mesmo conquistar Jerusalém e estabeleceram até alguns estados cristãos na Palestina.
Iluminura do final do século XIII representando o rei de França, São Luís,
partindo para Chipre a caminho da sétima Cruzada (1148)

     Foi com a ajuda de uma expedição de Cruzados que se dirigiam para a Palestina que D. Afonso Henriques conseguiu conquistar a cidade de Lisboa aos Muçulmanos. A Reconquista Cristã era considerada a Cruzada do Ocidente, pelo que foi fácil convencer estes Cruzados a participar neste combate, pois era também para eles um combate em defesa da fé cristã.
Algumas das várias ordens religiosas-militares que se investiram nas Cruzadas


– De Olisipo a Lisboa –
    O local onde hoje se situa a atual capital portuguesa já era habitado desde a Pré-História (Neolítico). Não se conhecem muito bem as origens da povoação que viria a tornar-se Lisboa, mas uma das hipóteses remonta aos Fenícios, povo comerciante do Mediterrâneo, que terão iniciado o povoamento na colina onde hoje se encontra o Castelo de São Jorge. O porto natural de Lisboa, no estuário do Tejo, seria um ótimo abrigo para os navios fenícios nas suas viagens para o norte a Europa. No período romano, a cidade seria chamada Felicitas Iulia Olisipo, ficando conhecido por Olisipo. Não se conhece a origem deste nome, o que fez surgir muitas teorias e lendas, entre as quais a de que a cidade teria sido fundada pelo mítico herói grego Ulisses.
     Lisboa cresceu e, no século XII, quando foi conquistada pelos Cristãos aos Mouros (que então lhe chamavam de Al-Usbuna), era uma das maiores cidades muçulmanas na Península Ibérica. Dizia-se que teria perto de 100 mil habitantes, número muito exagerado já que não deve ter passado dos cinco mil. Apesar da sua importância – quer pela sua localização (dominando o estuário do Tejo e ponto fundamental na ligação entre o norte e o sul) quer por dominar uma região rica e de clima ameno –, só no século XIII, no reinado de D. Afonso III, é que Lisboa viria a ser elevada a capital do reino.
A mais antiga representação conhecida da cidade de Lisboa, presente na Crónica de D. Afonso Henriques
da autoria de Duarte Galvão (inícios do séc. XVI)
Para saber mais:
http://ensina.rtp.pt/artigo/as-cruzadas-e-os-estados-cruzados/
http://portugalglorioso.blogspot.fr/2014/10/25-de-outubro-de-1147-dafonso-henriques.html
http://www.ricardocosta.com/artigo/mentalidade-de-cruzada-em-portugal-secs-xii-xiv
http://pt.wikipedia.org/wiki/Osberno
http://pt.wikipedia.org/wiki/De_expugnatione_Lyxbonensi
http://ensina.rtp.pt/artigo/vestigios-romanos-em-lisboa/

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

À volta dos livros: #2 Madalena, Francisco e Isabel Stilwell - Histórias para contar em minuto e meio (vol. 1, 2 e 3)

STILWELLMadalenaFrancisco IsabelHistória para contar em minuto e meio (vol. 1,2 e 3), Lisboa, Verso da Kapa, 2005, 2006, 2009.
Ilustrações: vol.1, Marta Torrão; vol.2, Helena Simas; vol.3, Carla Nazareth.

Obras recomendadas pelo PNL / Plano Nacional de Leitura para o 2º ano/CE1.



     Isabel Stilwell publicou com os filhos, Madalena e Francisco, na editora Verso da Kapa, histórias para contar, tal como o título sugere, em minuto em meio. Os três primeiros volumes foram publicados na primeira década do século XXI (2005, 2006 e 2009) e refletem os tempos atuais onde ninguém tem tempo para nada, muito menos para contar histórias aos mais novos. Mas os nossos pequenotes precisam que tenhamos tempo para lhes contarmos histórias, precisam que lhes alimentemos a imaginação…

     Estes três volumes propõem textos curtos, cheios de atualidade, originais e divertidos, que podem ser lidos, depois do jantar, quando as crianças ainda não sabem ler. Feito o primeiro ano da escola primária, os jovens leitores já podem ler uma história em minuto e meio para adormecerem os pais!

     Vale a pena descobrir estes livros e tentar com eles criar o prazer da leitura em português!

Ilustração de Carla Nazareth (in Histórias para contar em minuto e meio - vol. 3)

EU QUERO UM NETO DESARRUMADO
     «Era uma vez um menino muito arrumadinho. Punha os brinquedos arrumados por tamanhos, dobrava as camisas tão direitinhas que parecia que vinha de uma engomadeira, e a pasta da escola estava sempre absolutamente arrumada. O estojo tinha uma caneta, um lápis afiado, uma caneta sobresselente para quando a tinta acabasse na outra, uma borracha e um afia-lápis. E os cadernos estavam forrados, com as etiquetas muito direitas, e lá dentro não havia riscos, nem escritos por cima, nem páginas rasgadas.

     A mãe gostava muito de ter um filho tão arrumadinho […] Mas a avó do Zé Pedro não gostava nada…»
In Histórias para contar em minuto e meio (vol. 2), Lisboa, Verso a Kapa, 2006, p. 124.


E ainda levam uma pequena história completa para vos adoçar a boca...
CLIQUE AQUI!


Prof. Isabel da Costa

terça-feira, 14 de outubro de 2014

À volta dos livros: #1 Fernando Pessoa - Je(ux)

PESSOA, Fernando, Je(ux) - Petite Anthologie, Paris, Editions Chandeigne, 2014.
Versão bilíngue, português-francês.
Ilustrações de Ghislaine Herbéra, tradução de Patrick Quillier, posfácio de Joanna Cameira Gomes.


     Uma viagem até ao mundo do grande poeta através desta "pequena antologia". Pequena pela dimensão do compêndio, voluntariamente reduzida, mas também pela temática abordada, a infância. Ao sabor dos heterónimos, Je(ux) oferece-nos o imaginário de Pessoa em torno dos ternos anos da meninice. Para tal não poderia faltar uma estética cuidada, deliberadamente inspirada na multisecular tradição do azulejo português... Recomenda-se!

LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

In Seara Nova, 1937


Prof. Miguel Guerra

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Lendas da nossa língua: #2 Martim Moniz (Portugal)

     O nome de Martim Moniz está ligado à conquista de Lisboa aos Mouros, em 1147, e figura na memória da cidade através de uma praça com o seu nome.
     A lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade, ajudado pelos muitos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa. O cerco durou ainda algum tempo, durante o qual se travavam pequenas investidas por parte dos cristãos.
O cerco de Lisboa, aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1917)
     Numa dessas tentativas de assalto a uma das portas da cidade, Martim Moniz enfrentou os mouros que saíam para repelir os cristãos e conseguiu manter a porta aberta mesmo a custo da sua própria vida. O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos liderados por D. Afonso Henriques entrassem na cidade.
"O entalado". Escultura de José João Brito, na estação "Martim Moniz" do metropolitano de Lisboa. 
     Ferido gravemente, Martim Moniz entrou com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os seus inimigos, antes de cair morto. D. Afonso Henriques quis honrar a sua valentia e o sacrifício da sua vida ordenando que aquela entrada passasse a ter o nome de Martim Moniz. O povo diz que foi D. Afonso Henriques que mandou colocar o busto do herói num nicho de pedra, onde ainda hoje se encontra.
O pequeno busto de Martim Moniz.
In http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/distritos/lisboa.htm


Lendas da nossa língua: #1 As amendoeiras em flor (Portugal)


     Há muitos séculos, reinava em Chelb, a futura Silves, o rei Ibn-Almundim. Este rei nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade. Conquistando progressivamente a confiança de Gilda, confessou-lhe o seu amor e pediu-a em casamento. Foram felizes durante algum tempo. Um dia, a bela princesa do Norte adoeceu sem razão aparente. Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. Então, Ibn-Almundim mandou plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras.

     Na primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo. Ao ver as flores brancas das amendoeiras, a princesa começou a sentir-se melhor, pois davam-lhe a ilusão da neve. Gilda ficou curada da saudade que sentia...




In http://www.infopedia.pt/$lenda-das-amendoeiras-em-flor
http://sets-comenius.blogspot.fr/2010/03/lenda-das-amendoeiras-em-flor-english.html