quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Efemérides da História Lusófona: #2 O fim da "Grande Guerra" (11 de novembro de 1918)

– Portugal entre os vencedores –
A Primeira Guerra Mundial. blocos e frentes de combate
     Em 1910, quando a República foi implantada em Portugal, os conflitos entre as maiores potências europeias tinham-se agravado. A Inglaterra, a França e a Alemanha disputavam territórios em África e, na Europa, a Alemanha tentava tornar-se a potência dominante. Destes conflitos surgiram dois blocos de potências adversárias – de um lado, a Inglaterra, a França e o Império Russo: a Tríplice-Entente; do outro, o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro e o Reino de Itália: a Tríplice-Aliança.
A Tríplice-Aliança, Le Petit Journal, 25/10/1896
Alegoria da Tríplice-Entente (cartaz russo de 1914)
     Em 1914, o assassínio do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austro-húngaro, fez desencadear uma guerra entre estes dois blocos – seria a Primeira Guerra Mundial. No início, Portugal, aliado da Inglaterra, permaneceu fora do conflito, embora tivesse de defender as suas colónias em África de ataques dos alemães. O governo do novo Partido Democrático (oriundo da cisão do Partido Republicano Português) acreditava que a Triplíce-Entente sairia vencedora. Defendia, por isso, a entrada de Portugal na guerra de modo a garantir, no final do conflito, a posse das suas colónias. Porém, muitos dos oficiais das forças armadas portuguesas não concordavam por acharem que as tropas portuguesas não estavam preparadas para um conflito deste tipo. Em 1916, contudo, os Aliados pediram a Portugal que apreendesse os navios alemães ancorados em portos portugueses. Portugal concordou e a Alemanha declarou-lhe guerra. Foi então decidido criar um corpo militar, em 1916, para ser enviado para a linha da frente de combate, em França – o Corpo Expedicionário Português (CEP).
Partida do CEP para França. Cais de Santa Apolónia em Lisboa, janeiro de 1917.

     Houve, no entanto, muitas dificuldades na formação deste corpo, em homens e em material. Apesar de ter recebido formação militar no tempo recorde de nove meses (o chamado “Milagre de Tancos”, a base militar onde decorreu a formação) e de ter armas fornecidas por Inglaterra, o CEP chegou a França mal preparado, com oficiais pouco motivados e até descontentes com a participação portuguesa nesta guerra. As dificuldades aumentaram já na frente de combate, em França, no início de 1917: o inverno rigoroso, as rações inglesas de que os soldados portuguesas não gostavam e, principalmente, a falta de tropas que rendessem os soldados na linha da frente. Estes problemas contribuíram para que, no dia 9 de abril de 1918, as tropas portuguesas sofressem uma pesada derrota na Batalha de La Lys. A participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, bem como a derrota nesta batalha, contribuíram para agravar a situação delicada do país.
     No dia 11 de novembro de 1918, a Alemanha oficializa a sua rendição com a assinatura do Armistício, em Compiègne (Oise).


– La Lys –
     A Batalha de La Lys teve lugar nas planícies junto ao rio Lys, na região fronteiriça entre a França e a Bélgica (Flandres). Esta região foi uma das principais áreas de combate durante toda a Primeira Guerra Mundial. Os exércitos inimigos (impérios alemão e austro-húngaro de um lado e os Aliados – França, Inglaterra e Bélgica – do outro) estavam dispostos ao longo de linhas fortificadas por trincheiras com vários quilómetros de extensão.
O Corpo Expedicionário Português nas trincheiras de La Lys.

     Na região do Lys havia duas linhas de trincheiras que se estendiam por mais de 55 km: a segunda linha ficava a 200-300 metros da primeira. Uma terceira linha, na retaguarda, já sem trincheiras, ficava entre 500 a 1000 metros da segunda. O CEP defendia uma parte destas linhas fortificadas. A ofensiva alemã aconteceu no dia em que as tropas portuguesas iriam ser rendidas na linha da frente. Comandadas pelo general Gomes da Costa, estavam cansadas, mal equipadas e desmotivadas. Apesar disso, resistiram mais de 24 horas, sofrendo pesadas baixas (mais de 7000 homens, entre mortos, feridos e prisioneiros), mas contribuíram com a sua resistência para que o ataque alemão não tivesse resultados piores para os Aliados.


– A participação brasileira –

     A 4 de agosto de 1914, a República Brasileira declara a sua neutralidade no conflito querendo, assim, garantir a continuidade do comércio das suas mercadorias, principalmente o café. Alastrando-se a vários continentes, a guerra põe em causa a sustentabilidade da economia brasileira que se concentrava maioritariamente na exportação da produção cafeeira. Não sendo um bem de primeira necessidade, o seu comércio diminuiu fortemente. A Inglaterra chega mesmo a proibir a sua importação, em 1917, a fim de libertar espaço no porão dos navios para mercadorias mais essenciais. Contudo, o estado de neutralidade iria alterar-se a partir de 1917. O patrulhamento cerrado dos litorais atlânticos por parte da frota submarina alemã leva a frequentes torpedeamentos de navios mercantes e paquetes. Ficou célebre o caso do paquete britânico Lusitânia, afundado por submarinos da marinha alemã, em 1915. Da mesma forma serão destruídas várias embarcações brasileiras.
O presidente da República do Brasil, Venceslau Brás, declara guerra à Alemanha e aos seus aliados.


     A 5 de abril de 1917, o navio mercante brasileiro Paraná é torpedeado junto à costa normanda e, na sequência, o Brasil quebra as suas relações diplomáticas com o Império Alemão. Seguem-se novos afundamentos: a 20 de maio de 1917, o navio Tijuca (o que leva o governo brasileiro a confiscar dezenas de embarcações alemãs ancoradas em portos brasileiros, como indemnização); a 27 de julho, é a vez do navio a vapor Lapa; a 23 de outubro, o cargueiro Macau, junto à costa espanhola, e que leva ao aprisionamento do comandante do navio. Na sequência, e face à intensa pressão popular que se fazia sentir no Brasil há já vários meses, o presidente da República, Venceslau Brás, declara guerra à Alemanha e aos seus aliados no dia 26 de outubro de 1917. Ainda a 4 de novembro, são torpedeados os navios Guaíba e Acari. São abertos os portos brasileiros às forças navais aliadas, assim como incumbe à marinha brasileira o patrulhamento do Atlântico Sul. Várias forças brasileiras integram as áreas de confronto na frente ocidental: a Força Aérea brasileira junta-se à Royal Air Force britânica, a Marinha atua, em auxílio dos ingleses, nas imediações do Estreito de Gibraltar; uma missão médica é enviada para França para auxiliar o corpo médico aliado; um contingente de oficiais serve junto do Exército francês.
     Nas conferências de paz que assinalam o fim da guerra, em Paris e em Versalhes, a representação brasileira garante reparações de guerra, em particular no que se refere aos navios afundados e às mercadorias destruídas.


– Sidónio Pais –

     Nasceu em 1872, em Caminha. Seguiu a carreira militar, mas viria a tornar-se também professor de Cálculo diferencial na Universidade de Coimbra. Defensor das ideias republicanas desde os tempos de estudante, fez parte de dois governos republicanos após a implantação da República. Em 1912 assumiu o cargo de ministro de Portugal na Alemanha, onde ficou até 1916 (ano em que a Alemanha declarou guerra a Portugal). Foi depois de regressar a Portugal que Sidónio Pais começou a ganhar maior destaque na vida política portuguesa. Tornou-se um dos principais líderes da contestação aos governos republicanos, à sua incapacidade para resolver os problemas dos Portugueses e à constante agitação política.
Sidónio Pais à entrada da Sé de Lisboa por altura do ofício religioso em memória dos soldados portugueses mortos em França.



     No dia 5 de dezembro de 1917, Sidónio Pais liderou um golpe de Estado que derrubou o governo republicano. Instaurou uma ditadura militar e assumiu o cargo de presidente da República. Tornou o regime mais presidencialista e apareceu como o homem forte que iria pôr ordem no país – era a “República Nova”. Inicialmente, teve grande apoio popular, com enormes multidões a recebê-lo onde quer que fosse. Porém, a continuação da participação de Portugal na guerra, as perseguições a opositores do regime e as dificuldades económicas rapidamente acabaram com este “estado de graça”. Voltaram as greves, os protestos e a agitação constante. A 5 de dezembro, um ano depois do golpe, Sidónio Pais escapou a um atentado. Contudo, pouca mais de uma semana depois, ao chegar à Estação do Rossio para embarcar com destino ao Porto, já não conseguiu escapar. As balas disparadas por José Júlio Costa no dia 14 de dezembro de 1918 acertaram no alvo e os tiros foram mortais.


Fontes:
Rúben Castro e Ricardo Ferrand, Grandes datas de Portugal (1096-2007), Texto Editores, Lisboa, 2011.
http://www.grandesguerras.com.br/artigos/text01.php?art_id=68
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_na_Primeira_Guerra_Mundial

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